quarta-feira, 27 de junho de 2012

Inversão de Valores



Pré-requisito: Nenhum

Autor: Gustavo Spina

Analisando a “evolução” e o comportamento humano, em quase todos os aspectos, de meados de 2000 até os dias de hoje, podemos facilmente detectar uma mudança de conceitos, que praticamente trocou de lugar o “certo” e o “errado”, o “bom” e o “mal”, o “necessário” e o “supérfluo”, muito bem denominada como uma enorme e assustadora inversão de valores.

Na virada do milênio, com o advento da famosa globalização e nascimento da internet fortemente difundida através da vasta população mundial, foi praticamente automática a mudança e abandono de velhos conceitos, bem como a introdução de novas idéias e exigências, principalmente nos diversos ramos da informação e informática, mudando bruscamente o estilo de vida dos jovens, os pré-requisitos básicos para um bom profissional, entre muitos outros aspectos sociais.

Em meio a essas grandes mudanças, ao longo desses anos, muito têm se falado em evolução e progresso humano, frutos da tão louvada tecnologia. Tudo foi tornando-se mais fácil, rápido, eficaz e popular: equipamentos médicos, instrumentos mais precisos, produção robótica mais segura e veloz, facilidade de pagamentos e agendamentos online, ampla difusão de informação através da internet, entre outras milhares de vantagens. Esses e milhares de outros fatores foram sendo, e são até hoje, injetados na mídia e em nós como características da evolução, do progresso humano, quando na verdade são exatamente o inverso, são características de um retrocesso, de uma involução humana.

É bem verdade que a tecnologia, a ciência, a medicina e diversos outros ramos evoluíram, mas isso não implica na evolução humana, e sim de suas técnicas. É facilmente notável que enquanto grandiosas máquinas e estudos estavam sendo desenvolvidos, a educação, a cidadania, o respeito, a disciplina, a amizade, o amor e todos os outros valores éticos e morais, do caráter da pessoa, foram sendo esquecidos e reduzidos a pó de forma massiva e assustadora, formando a sociedade fria, estática e ignorante, a qual vivemos hoje.

De nada adianta equipamentos médicos mais eficientes e precisos se as formas de assassinatos também forem mais eficientes, precisas e corriqueiras. De nada vale a facilidade de diversas atividades com a disponibilidade de serviços online se não houver compaixão e paciência dos capacitados para ensinar os leigos a navegar pela internet. Quais serão os benefícios de carros cada vez mais velozes e populares, se a educação e a paciência no trânsito continuarem sem sequer existir, ou dos supercomputadores, tablets, celulares e todos os aparelhos eletroeletrônicos cada vez com mais funções e mais difundidos pela população, se não houver mais sentimentos verdadeiros, um simples abraço ou uma conversa presencial?

A resposta é NADA, NENHUM, um grande vazio, gelado como os tão valorizados robôs, como esse progresso tecnológico que nos torna cada dia mais falsos e ocos, supervalorizando somente aquilo que não têm vida, esquecendo-se do que existe de mais importante, e que já teve valor em um passado nem tão remoto assim.

A família, em seu amplo sentido, praticamente não existe mais. Nada é mais comum do que homens desinteressados por um relacionamento sério, abominando e sendo incapazes de manter namoros e principalmente casamentos duradouros. Mulheres igualmente desinteressadas, cada vez mais frias e sem sonhos, tão preocupadas com seus direitos e em se “igualar” aos homens, que abandonaram sua beleza, que um dia já foi especial, e sua feminilidade, que um dia já existiu e foi maravilhosa. Filhos desobedientes que desdenham e desrespeitam seus pais e avós, insinuando e acreditando viverem num mundo moderno e melhor, impondo suas novas e ridículas atitudes, que vão desde a falsa “rebeldia”, destruindo por completo sua aparência de diversas maneiras, até o uso da violência, promovendo muitas vezes o assassinato dos próprios pais, acontecimento assustadoramente cada vez mais corriqueiro. Pais irresponsáveis, que quando não criam às avessas, não dando a mínima educação necessária, abandonam seus filhos recém-nascidos em sacos de lixo.

A mídia, e esta não poderia deixar de contribuir, impulsiona, de certa forma, toda essa ideia, toda essa modernização errônea da atual sociedade, justificando e incentivando toda essa inversão de valores. Através de sua programação e superproduções, principalmente em novelas e filmes, as grandes indústrias do entretenimento passam a ideia de que o homem é mais feliz solteiro do que casado, de que há sempre um final feliz àquela sonhadora mulher solteira, de que, no fim das contas, a tecnologia sempre salva a tudo e a todos, entre milhares de outras ideias equivocadas, que trazem valores equivocados, bombardeando constantemente nosso cérebro, se instalando em nossa mente, nos fazendo as aceitar como verdades absolutas, como um vírus, uma cólera, gritando ao mundo a grande desvalorização da vida.

E por falar em VIDA: o que é isso, hoje em dia, afinal? A vida, e toda sua essência, foi transformada em um objeto, em uma mercadoria, algo pífio, sem valor ou importância alguma. Uma simples esbarrada acidental, um pequeno descuido no trânsito, o simples fato de você ter outras vontades, expressar outras opiniões, ter outros gostos, cometer enganos ou mal entendidos, TUDO ou qualquer acontecimento, por mais mesquinho que seja, é motivo para que vidas sejam tiradas. Este é o ponto máximo dessa assombrosa inversão de valores: o louvor à tecnologia e ao dinheiro tem sido tão alarmante, que atribuímos hoje maior importância ao material, ao metal, ao plástico, ao sintético, àqueles papéis retangulares com alguns desenhos, números, símbolos e cores, do que o ser humano, do que à vida!

Em suma, é sempre difícil pensarmos, criarmos e principalmente implementarmos uma solução para tudo isso, como um antídoto, uma vacina que fosse aplicada em todos os cidadãos, para que enfim fossem curados dessa doença, dessa cegueira que os impede de ver mais além, ver os erros que cometem, ver os valores que se perderam ao longo desses anos, e por isso, acabamos por lamentar e nos sentirmos de mãos atadas, impotentes e desesperados; não tenho tanta certeza quanto ao leitor, mas, neste caso, falo por mim. Porém, como de nada adianta se lamentar, um modo de começarmos é fazendo a nossa parte, revendo nossos conceitos e prioridades, dando mais valor ao familiar, ao parente, ao amigo, ao próximo, colocando a vida em primeiro lugar, resgatando e enxergando os valores perdidos ao longo desses anos, enxergando O OUTRO LADO DA MOEDA.

Um comentário:

  1. Muito bom Gustavo! Parabéns! Enquanto as pessoas acreditarem no que é dito sem ao menos parar pra pensar o mundo vai continuar desse jeito. As pessoas já têm uma ideia formada na cabeça, quase impossível de tirar, é uma pena! Tem uma frase que eu gosto muito e que eu acho que se encaixa perfeitamente com o seu post. "Seja qual for o país, capitalista ou socialista,
    o homem foi em todo o lado arrasado pela tecnologia,
    alienado do seu próprio trabalho, feito prisioneiro,
    forçado a um estado de estupidez.
    -- Simone de Beauvoir"

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