terça-feira, 20 de novembro de 2018

O Outro Lado da Música 3 - Thank you God - Tim Minchin

Para contextualizar a música é importante trazer a história que Tim Minchin conta, em seus shows, antes de inicia-la:

“Ao longo dos anos, eu percebi que boa parte das pessoas vem pros meus shows particularmente porque eu canto bastante sobre crenças. Especificamente, no passado eu cantava muitas músicas sobre fé e religião. E pra ser completamente sincero com vocês eu zombava... Não no geral, mas de algumas coisas que se possa entender como hipócritas. Mas eu não quero que vocês fiquem esperando, porque eu não vou mais fazer isso.” ... “Algo me aconteceu quando eu estava na minha última turnê na Austrália.” ... “Estávamos em uma vibe ótima no bar, mas eu notei um cara que estava, desconfortavelmente, pairando na periferia do nosso grupo.” ... “Enfim, ele estava parado lá e eventualmente se aproximou.” ... “O nome dele era Sam.” ... “Ele era de Dandenong. Dos subúrbios de Dandenong que ficam em Dandenong Ranges ao sudeste de Melbourne.” ... “E então ele conseguiu me isolar do grupo e disse:
-‘Tim, eu sempre quis falar com você porque eu sou um fã do seu trabalho e não quero que você pense que eu me sinto ofendido, nem nada, mas, como você deve ter notado, eu sou um cristão.’” ... “’Eu sempre quis te perguntar por que... Por que você não acredita em Deus?’
E eu disse:
-‘Bem, Sam, eu não acredito em Deus pelo mesmo motivo que a maioria das pessoas que não acreditam em algo não acreditam, porque eu não tive provas o bastante para esclarecer minhas dúvidas.’”
...“E ele falou:
-‘Bem, Tim, se você quer provas, que tal isso?’
E ele me contou essa história. Essa história incrível sobre sua mãe. Sam e sua mãe eram membros de uma grande congregação evangélica em Dandenong.” ... “E quando fez 60 anos, a mãe do Sam foi ao médico com um problema nos olhos. Ele a diagnosticou com uma doença degenerativa irreversível nos olhos. E ele disse que se ela não fizesse uma cirurgia rápida poderia perder a visão. E a mãe do Sam ficou com medo. Ela não acreditava na medicina moderna nem confiava em médicos. Ela tinha medo de hospitais e de cirurgia.” ... “Sam e sua mãe foram para essa igreja, essa igreja incrível, e naquele domingo, a congregação toda dessa igreja, umas 1700 pessoas, rezaram ao mesmo tempo pela mãe do Sam. Na terça seguinte ela voltou no médico, e não havia sinais de que algo sequer esteve errado com seus olhos. Ela estava bem, ela estava curada. E o motivo dessa história ter me atingido é porque eu sempre tentei ser intelectualmente sincero comigo e com os outros. E tudo o que eu sempre pedi foi provas. E lá estava eu testemunhando a narrativa em primeira pessoa do que só pode ser descrito como um milagre. Então eu fui pra casa e escrevi essa música.”.

Thank you God - Letra:

I have an apology to make
I'm afraid I've made a big mistake
I turned my face away from you, Lord

I was too blind to see the light
I was too weak to feel Your might
I closed my eyes; I couldn't see the truth, Lord

But then like Saul on the Damascus road
You sent a messenger to me, and so
Now I've have had the truth revealed to me
Please forgive me all those things I said
I'll no longer betray you, Lord
I will pray to you instead

And I will say, thank you, thank you
Thank you, God
Thank you, thank you
Thank you, God

Thank you, God, for fixing the cataracts of Sam's mum
I had no idea, but it's suddenly so clear now
I feel such a cynic, how could I have been so dumb?
Thank you for displaying how praying works
A particular prayer in a particular church
Thank you Sam for the chance to acknowledge this
Omnipotent ophthalmologist

Thank you, God, for fixing the cataracts of Sam's mum
I didn't realize that it was so simple
But you've shown a great example of just how it can be done
You only need to pray in a particular spot
To a particular version of a particular god,
And if you pull that off without a hitch,
He will fix one eye of one middle-class white bitch

I know in the past my outlook has been limited
I couldn't see examples of where life had been definitive
But I can admit it when the evidence is clear,
As clear as Sam's mum's new cornea
(And that's extremely clear!)

Thank you, God, for fixing the cataracts of Sam's mum
I have to admit that in the past I have been skeptical
But Sam described this miracle and I am overcome!
How fitting that the sighting of a sight-based intervention
Should open my eyes to this exciting new dimension
It's like someone put an eye chart up in front of me
And the top five letters say: I C, G O D

Thank you, Sam, for showing how my point of view has been so flawed
I assumed there was no God at all but now I see that's cynical
It's simply that his interests aren't particularly broad
He's largely undiverted by the starving masses,
Or the inequality between the various classes
He gives you strictly limited passes,
Redeemable for surgery or two-for-one glasses

I feel so shocking for historically mocking
Your interests are clearly confined to the ocular
I bet given the chance, you'd eschew the divine
And start a little business selling contacts online

Fuck me Sam, what are the odds
That of history's endless parade of gods
That the God you just happened to be taught to believe in
Is the actual one and he digs on healing,
But not the AIDS-ridden African nations
Nor the victims of the plague, nor the flood-addled Asians
But healthy, privately-insured Australians
With common and curable corneal degeneration

This story of Sam's has but a single explanation
A surgical God who digs on magic operations
No, it couldn't be mistaken attribution of causation
Born of a coincidental temporal correlation
Exacerbated by a general lack of education
Vis-a-vis physics in Sam's parish congregation
And it couldn't be that all these pious people are liars
It couldn't be an artefact of confirmation bias
A product of groupthink
A mass delusion
An Emperor's New Clothes-style fear of exclusion

No, it's more likely to be an all-powerful magician
Than the misdiagnosis of the initial condition
Or one of many cases of spontaneous remission
Or a record-keeping glitch by the local physician

No, the only explanation for Sam's mum's seeing
They prayed to an all-knowing superbeing
To the omnipresent master of the universe
And he quite liked the sound of their muttered verse

So for a bit of a change from his usual stunt
Of being a sexist, racist, murderous cunt
He popped down to Dandenong and just like that
Used his powers to heal the cataracts of Sam's mum
Of Sam's mum

Thank you God for fixing the cataracts of Sam's mum!
I didn't realize that it was such a simple thing
I feel such a dingaling, what ignorant scum!

Now I understand how prayer can work
A particular prayer in a particular church
In a particular style with a particular stuff
And for particular problems that aren't particularly tough,
And for particular people, preferably white
And for particular senses, preferably sight
A particular prayer in a particular spot
To a particular version of a particular god

And if you get that right, he just might
Take a break from giving babies malaria
And pop down to your local area
To fix the cataracts of your mum!


Obrigado Deus – Tradução:

Eu tenho um pedido de desculpa a fazer
Receio ter cometido um grande erro
Me afastei de ti, Senhor

Estava muito cego para ver a luz
Estava muito fraco para sentir seu poder
Fechei meus olhos; eu não conseguia ver a verdade, Senhor

Mas então como com Saulo na estrada de Damasco
Enviaste um mensageiro para mim, e então
A verdade a mim foi então revelada
Por favor, perdoe-me por todas aquelas coisas que disse
Não te trairei mais, Senhor
Invés disso rezarei para ti

E direi: obrigado, obrigado
Obrigado, Deus
Obrigado, obrigado
Obrigado, Deus

Obrigado, Deus, por curar a catarata da mãe do Sam
Não tinha nem ideia, mas de repente está tão claro
Me sinto um cínico, como pude ser tão estúpido?
Obrigado por mostrar como rezar funciona
Uma oração específica em uma igreja específica
Obrigado, Sam, pela chance de reconhecer este
Oftalmologista onipotente

Obrigado, Deus, por curar a catarata da mãe do Sam
Nem sabia que era tão simples
Mas você me mostrou um bom exemplo de como pode ser feito
Só precisa rezar em um lugar específico
Para uma versão específica de um deus específico
E se você conseguir fazer isso, sem problemas
Ele irá curar um olho de uma vadia branca de classe média

Eu sei que anteriormente minha perspectiva era limitada
Eu não conseguia ver exemplos onde a vida era definitiva
Mas eu posso admitir quando a evidência é clara
Tão clara quando a nova córnea da mãe do Sam
(E isso é extremamente claro!)

Obrigado, Deus, por curar a catarata da mãe do Sam
Tenho que admitir que no passado eu era cético
Mas Sam descreveu esse milagre e agora estou convencido
Quão apropriado a visão de uma intervenção na visão
Pode abrir meus olhos para essa nova dimensão emocionante
É como se alguém colocasse uma tabela optométrica na minha frente
E as primeiras cinco letras fossem: “E U V E J O D E U S”

Obrigado, Sam, por me mostrar como meu ponto de vista era tão falho
Assumi que Deus não existia, mas agora percebo o cinismo
Acontece que os interesses dele não são necessariamente amplos
Ele é largamente desinteressado pelas massas famintas
Ou a desigualdade entre as várias classes
Ele nos dá cupons rigorosamente limitados
Reembolsáveis em cirurgias ou "dois óculos pelo preço de um".

Me sinto tão chocado por zombar historicamente
Seus interesses são claramente limitados aos oculares
Aposto que dada a oportunidade, Você se afastaria do divino
E começaria um pequeno negócio para vender lentes de contato online

Puta merda Sam, quais são as chances
Que do desfile histórico e interminável de deuses
O Deus que aconteceu de você ser ensinado a crer
Ser o verdadeiro e ainda ser o que manja das curas
Mas não das nações africanas assoladas pela AIDS
Nem das vítimas da praga, nem dos asiáticos inundados
Mas de australianas saudáveis e com plano de saúde
Com degeneração - comum e curável - da córnea

Esta história do Sam tem uma simples explicação
Um deus cirurgião que manja de operações mágicas
Não, não pode ser um erro na atribuição da causa
Que surgiu de uma coincidente correlação temporal
Agravada por uma falta de instrução geral
Vis-a-vis físico na congregação paroquial do Sam
E também não pode ser que todas aquelas pessoas piedosas sejam mentirosas
Nem ser um artefato do viés de confirmação
Um produto do pensamento coletivo
Uma ilusão em massa
Um medo de exclusão como acontece na fábula "A Roupa Nova do Rei"

Não, é mais provável que seja um mágico todo poderoso
Que o diagnóstico equivocado da condição inicial
Ou um dos muitos casos de remissão espontânea
Ou uma falha ao manter os registros no consultório

Não, a única explicação para a mãe de Sam ver
Eles oraram para um ser supremo onisciente
Para o mestre onipresente do universo
E ele meio que gostou dos sussurros

Então, para mudar um pouco seus hábitos costumeiros
De ser sexista, racista, feminicida
Ele apareceu lá em Dandenong e num passe de mágica
Usou seus poderes para curar a catarata da mãe do Sam
Da mãe do Sam

Obrigado Deus por consertar a catarata da mãe do Sam
Não percebi que era uma coisa tão simples
Me sinto como um pinto mole, um merda ignorante

Agora eu entendo como uma oração funciona
Uma oração específica, em uma igreja específica
Com um estilo específico, com conteúdo específico
E para problemas específicos, que nem são tão difíceis assim
E para pessoas específicas, de preferência brancas
E para sentidos específicos, de preferência a visão
Uma oração específica, em um lugar específico
Para uma versão específica, de um deus específico

E se você fizer tudo certo, ele até pode
Dar uma pausa de dar malárias às crianças
E aparecer no seu bairro
Para curar a catarata da sua mãe!



Uma das linhas de pensamento mais importantes para quem já iniciou todo um processo de autoquestionamento em relação à suas próprias crenças, ou a crenças em geral, e que pode funcionar – da maneira como ocorreu comigo – como a última pá de terra no túmulo de sua fé, é trazida ao longo de toda esta canção. Essa simples e ao mesmo tempo complexa linha de pensamento consiste em um profundo entendimento, na extrapolação em último nível do corolário de Carl Sagan, que afirma que “alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”.

Nesta discussão, diversos conceitos entram em jogo, muitos deles já discutidos em outros textos neste blog, mas passaremos por cada um deles que for necessário, para enriquecermos esta que é uma das discussões mais interessantes deste blog, baseada em uma das letras de música mais geniais já escritas em todos os tempos. Sem mais delongas, vamos destrinchar a citação de Sagan e descobrir o quão intimamente ligada à letra da música de Tim ela está.

Vivemos afirmando coisas. O tempo todo, ou estamos alegando coisas, ou estão alegando coisas para nós: o mundo é redondo, o céu é azul, a água é liquida, o açúcar é doce, o sal é salgado. Praticamente tudo o que aprendemos sobre tudo, desde crianças, é através de alegações que outras pessoas estão fazendo. Mas tão importante quanto ouvir estas alegações é aprender quais destas alegações são verdadeiras e quais são falsas, e como detectar isto e, infelizmente, este ensinamento não é tão comum nas escolas, tampouco valorizado socialmente.

Toda e qualquer alegação que é feita, necessita de argumentos que a suportem. Em outras palavras, a explicação de cada afirmação que fazemos é tão ou mais importante do que a própria afirmação, pois é ela que nos trará a medida do quão verdadeira, falsa ou confiável é tal afirmação. É simples: se eu afirmo que “eu peso mais de cinquenta quilos”, a maneira mais fácil de mostrar que minha afirmação é verdadeira é mostrando os números da balança que estiver registrando meu peso, para a pessoa a quem eu estiver fazendo esta alegação. Neste caso, meu argumento é irrefutável, pois trata-se de uma evidência concreta, uma prova de que minha alegação é verdadeira. Mas nem sempre é tão fácil assim.

Os argumentos que sustentam cada alegação nem sempre são concretos, e podem ter infinitos níveis de confiabilidade e veracidade. Imagine que, por exemplo, eu alego ter avistado uma criatura que acredito ser o Pé-Grande, em uma das viagens que eu fiz. No entanto, não consegui fotografar nem filmar. Além disso, estava sozinho na ocasião, e o avistei bem de longe. Foi uma aparição rápida e logo ele desapareceu no meio da mata. Quais são meus argumentos neste caso, além da minha própria palavra, da minha experiência pessoal? Por mais idôneo que possa ser meu caráter, as diversas falhas em nosso sistema ocular e a forma como nosso cérebro funciona, amplamente estudadas, além das características vagas do relato, como ter acontecido em um curto período de tempo e há uma longa distância diminuem muito a confiabilidade dos argumentos e, consequentemente, da probabilidade desta alegação ser verdadeira.

Vamos aprofundar a análise, pois entraremos agora no ponto crucial desta linha de pensamento: a batalha de probabilidades. Considerando ainda o último exemplo dado, as vagas características do relato abrem um leque de possibilidades, uma infinidade de alternativas, onde em cada uma delas meu relato estaria errado de uma maneira diferente. Vejamos.

Por ter sido uma aparição muito rápida, podemos considerar as possibilidades de ter sido apenas uma impressão de ter avistado um vulto pelo canto do olho, uma sombra de algum pássaro que voava alto passando pelo sol, a falsa impressão de que algo se move enquanto nós estamos em movimento, entre outras possibilidades. Já a característica de ter sido um avistamento de longe, nos despeja uma tonelada de possibilidades, como o efeito psicológico de pareidolia, ter sido um animal qualquer como um urso ou macaco, ter sido apenas uma outra pessoa, alucinação leve causada por um possível medo de estar naquele local sozinho, etc.

Cada uma destas possibilidades forma nosso montante, nosso pool de possíveis explicações para este relato, onde em cada uma delas meu relato é falso em pelo menos algum aspecto, exceto na possibilidade de ter realmente sido o Pé-Grande, mas é agora que entra a parte mais importante da análise: as probabilidades individuais.

Suponha que ao todo, existam 100 possibilidades diferentes, um total de cem diferentes explicações para o relato – onde 99 explicam o avistamento de uma maneira diferente da minha explicação, e 1 é justamente o relato em si. Se todas as cem possibilidades tiverem a mesma probabilidade de estar correta, cada uma das alternativas teria 1/100 = 0,01 = 1% de chance de estar correta, no entanto, elas não têm a mesma probabilidade!

Este é justamente o entendimento, a extrapolação em último nível citado do corolário de Sagan: alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias! Uma alegação extraordinária que envolve o avistamento de uma criatura mítica denominada de Pé-Grande, carrega consigo dezenas, centenas ou até milhares de afirmações junto. Pense comigo, para que a criatura que eu tenha avistado seja, de fato, o Pé-Grande, então deve-se também ser verdade que:

1.       O Pé-Grande existe (como nasceu/surgiu?).
2.       Ele consegue sobreviver de alguma forma em algum lugar (De que se alimenta? Como se defende?).
3.       Ele vive há centenas de anos (pois foi avistado há mais de cem anos) ou ele deixou descendentes (Como se reproduzem?).
4.       Se deixou descendentes, havia mais de um, sendo no mínimo um macho e uma fêmea (Como nasceram/surgiram?)
5.       Ele se deslocou, a pé, do último local onde ele foi avistado até aquele local (o que pode significar distâncias de milhares de quilômetros em curtos períodos de tempo).
...

Cada uma destas afirmações, como vimos, levantam outros questionamentos, que por sua vez encadeiam mais alegações, de maneira que, para que a minha alegação inicial esteja correta, todas estas outras alegações altamente improváveis devem estar corretas junto, levando sua probabilidade de ser correta muito (muito mesmo) próxima de zero. Em outras palavras, a minha afirmação, por ser uma alegação especial pois envolve um ser mítico com diversas características bizarras, carrega diversas outras alegações que também devem estar, todas, corretas, formando um conjunto de alegações extremamente improváveis de ser verdadeiras, tem uma probabilidade de ser verdadeira infinitamente menor do que cada uma das outras 99 alternativas.

É exatamente esta análise que Tim Minchin, de uma maneira genial e muito sarcástica, faz nesta música, mudando apenas o contexto – trata-se de uma alegação ainda mais improvável que a de nosso exemplo, onde o relato afirma que ocorreu uma cura milagrosa de uma doença ocular degenerativa irreversível feita por Deus.

Assim como em nossa análise, a sucessão de alegações agregadas à alegação de Sam é exposta do início até o fim da música. Para que ele esteja certo, então deve ser verdade também que:

1.       Deus existe (o deus bíblico com todas suas características, somente Ele em detrimento a todos os outros milhares de deuses em que já se acreditaram e acreditam até hoje, provenientes de outros milhares de sistemas de crenças que não são o cristianismo).
2.       Ele atende preces seletivamente – apenas um tipo específico de oração, em uma congregação específica é atendida (por que?).
3.       Ele não cura ativamente outros diversos tipos de doenças em outras oportunidades (por que?).
4.       Ele não resolve, de forma ativa como no exemplo de Sam, problemas de larga escala como a fome e vítimas de desastres naturais (por que?).
5.       Ele resolve apenas problemas que não são humanamente impossíveis, ou extremamente difíceis de ser resolvidos, como membros amputados ou paralisados crescerem novamente ou voltarem a funcionar normalmente (por que?).
...

Em contrapartida, da mesma forma como fizemos com nosso exemplo, Tim cita diversas possibilidades alternativas que também serviriam de explicação para o ocorrido, como um erro de diagnóstico médico na causa ou no que originou a doença, o efeito psicológico do viés de confirmação ou de pensamento coletivo, o fenômeno de ilusão em massa, o comum efeito clínico de remissão espontânea ou até uma troca acidental de documentos no hospital que pode ter ocorrido ocasionando um diagnóstico de uma pessoa sendo passado para outra. Cada uma dessas alternativas é infinitamente mais provável do que a alegação especial de Sam, que necessita de uma explicação, como vimos acima, bastante especial.

Por fim, devemos enfatizar também que o trabalho de encontrar as “evidências extraordinárias” que sustentem qualquer “alegação extraordinária” deve ser única e exclusivamente de quem a enunciar. Este é o conceito do ônus da prova, que afirma que: “ao debater sobre qualquer assunto, existe o ônus implícito da necessidade de uma prova que cabe à pessoa que está fazendo uma afirmação”.

Em outras palavras, afirmações que atribuam um valor de verdade a uma proposição precisam de provas que sustentem tal qualificação. Afirmar a existência ou a inexistência de algo, afirmar o funcionamento ou não funcionamento de um método ou afirmar a presença ou ausência de uma característica: todas estas afirmações oneram o proponente com a necessidade de provas que as sustentem. Dessa maneira, a afirmação de Sam permanece inválida frente às outras possibilidades evidenciadas por Tim, até que o próprio Sam, pessoa que faz a alegação, a prove.


Enfim, de uma forma bastante divertida, inteligente e crítica na medida certa, a música Thank you God nos dá uma aula do porquê milagres não existem, ou melhor, têm 99,999...% de chances de não serem verdades frente a qualquer outra possível explicação para o tal fenômeno.

Música com a história de contextualização: https://www.youtube.com/watch?v=B494y6DMmAk.

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