quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O Falso Bem


Pré-requisito: Nenhum

Autor: Gustavo Spina

Se há uma distinção entre bem e mal, com certeza há uma distinção entre fazer o bem e fazer o mal. E afinal, o que é realmente fazer o bem? O que caracteriza uma ajuda? Em que consiste a verdadeira caridade? Muitas vezes somos enganados e acabamos por acreditar ser idônea alguma caridade, alguma ajuda, quando na verdade, não passa de uma falsa ação, que visa beneficiar quem a faz, ação que podemos chamar de “o falso bem”.

Há um aspecto principal, em minha opinião, que determina acima de tudo se a ajuda, caridade ou boa ação é idônea ou não: a exposição. Exposição no sentido do alarde, da platéia, da repercussão dessa ação perante a sociedade. Uma boa ação de verdade não deve exigir em troca aplausos, reconhecimento, títulos e congratulações, nada disso. Se a ajuda esta sendo feita, quem deve se beneficiar é aquele que está sendo ajudado, e não quem está ajudando. Quando a ajuda visa beneficiar também aquele que está ajudando, não é mais uma ajuda, e disso o leitor pode discordar, pois é apenas minha opinião, afinal este é meu blog, se quiser dar a sua opinião faça o seu, mas voltemos ao assunto.

Comecemos pelo coletivo, e depois partimos para o individual. No coletivo, isto é, ações feitas por instituições, grupos ou empresas, o “falso bem” predomina. A mídia explora emotivamente algumas situações, promovendo a falsa caridade, onde o benefício daquele que acreditamos estar sendo ajudado é o objetivo menos priorizado. Um exemplo simplificará e ajudará a entendermos esse sistema. Imaginemos que uma emissora fictícia transmita um programa o qual reforma casas e automóveis de famílias que mandam cartas pedindo por tal ajuda. Empresas de construção, mobília e móveis, bem como as de acessórios para automóveis, funilaria e pintura, entre outras, fornecem ao programa tudo o que for necessário para tal reforma, protagonizando um maravilhoso espetáculo de grande audiência. Porém, o que pode ser visto facilmente pelo telespectador mais atento é que tanto a emissora, como as empresas, visam beneficiar primeiramente a si mesmas, exibindo extensas propagandas dos produtos fabricados e ofertados por tais empresas e explorando emocionalmente a situação, fazendo questão de expor as lágrimas e os inúmeros agradecimentos da família ajudada, quase que como uma humilhação, apelando emocionalmente por mais audiência, introduzindo assim cada vez mais comerciais, com cada vez mais propagandas e ganhando cada vez mais dinheiro.

E assim o grande comércio da falsa ajuda funciona no coletivo, na mídia, ganhando emocionalmente a credibilidade do telespectador menos atento e dando um belo espetáculo de marketing, priorizando seu próprio benefício, deixando de lado o mais nobre aspecto da verdadeira caridade, exibindo para a maior platéia possível seus falsos atos, sua falsa ajuda.

Partindo agora para o individual, o assunto se torna mais detalhista e também mais interessante. No individual, ou seja, na caridade do dia a dia, feita por mim ou pelo caro leitor, temos outra característica marcante que nos ajuda a definir uma verdadeira caridade: a hierarquização. Além da principal característica, a exposição, que também se aplica à caridade individual, nos falando que o indivíduo também não deve exigir nada em troca e não deve exibir seu nobre ato a ninguém, devemos atentar agora para a hierarquização ou priorização de quem deve ser ajudado, bem como a importância dos diferentes tipos de ajuda que podem ser feitas.

A verdadeira caridade cresce de dentro para fora em todos os aspectos. Tanto a iniciativa, como as pessoas as quais você visa ajudar devem crescer de dentro para fora, partindo e começando por você mesmo, depois passando para seus familiares ou pessoas mais próximas, depois amigos e parentes mais distantes, e assim por diante. De nada valerá sua caridade se a iniciativa, a vontade de fazer o bem não vier de si, não nascer em você. É claro que um impulso de alguma doutrina ou um incentivo de algum amigo ou parente é válido, mas a vontade e a iniciativa principal devem vir de si, deve estar dentro de você, para que então você possa pôr esse sentimento para fora e ajudar o próximo da forma desejada.

O mesmo ocorre com as pessoas alvos de sua ajuda. Você não poderá ou não terá condições de ajudar alguém quando quem mais precisa de ajuda é você mesmo, pois ninguém pode dar aquilo que não tem. E esse aspecto permanece pelos próximos níveis, pois de nada valerá também ajudar pessoas mais distantes, quando quem mais precisa de sua ajuda é sua esposa, seu marido, seu filho ou alguém mais próximo. Esse é um quadro bastante comum. Diversas vezes podemos observar pessoas ajudando um desconhecido, um morador de rua ou uma instituição qualquer, e esquecendo-se de ser fiel a sua esposa, esquecendo de ouvir um desabafo de seu filho, tratando mal sua mãe, negando ajuda a seu irmão drogado ou ignorando qualquer outro problema de qualquer outra pessoa mais próxima, não imaginando o quão errada é essa atitude, e mostrando claramente que não sabe no que consiste a verdadeira caridade, praticando assim o falso bem.

Da mesma forma, os diferentes tipos e formas de ajudar alguém também recebem importâncias distintas. É muito corriqueiro e muito “fácil” doar dinheiro, doar sua “cesta básica”, doar algo que você não queira ou que não te serve mais para alguém que você muitas vezes você nem ao menos sabe quem é, nunca viu e nunca verá na sua vida. O contato humano, a troca de energias, a sua presença no momento da caridade é imprescindível para seu sucesso, para ser verdadeira. Um abraço apertado em alguém triste pode valer muito mais do que qualquer quantia em dinheiro, uma palavra de conforto a alguém desesperado pode valer muito mais do que alguns quilos de alimento, ouvir um desabafo de alguém aflito pode valer muito mais do que uma muda de roupas!

Portanto, a verdadeira caridade é aquela que parte de você e atinge as pessoas que estão à sua volta, crescendo de dentro para fora. É aquela que nasce em seu coração, que não precisa de platéia e aplausos, títulos e congratulações, nada além da sua consciência para saber que é verdadeira, que você fez o certo. A verdadeira caridade está em seu sorriso de satisfação de ver o resultado positivo de sua ajuda. Essa é a verdadeira caridade, esse é a verdadeira ajuda, esse é o verdadeiro bem, esse é O OUTRO LADO DA MOEDA.

Um comentário:

  1. Uma boa postagem, parabéns.

    É realmente triste o fato de como o "falso bem" é adotado pela mídia e aceito tão facilmente pelas famílias que se emocionam nas tardes de domingo. Essas que nem ao menos ajudam nem a pessoa do seu lado, saem do sofá, e agem como se tivessem feito algo de bom. Deixando que o ciclo de funcionamento do marketing inconsciente possa fluir em suas mentes.
    Não sou digno de criticar tão profundamente, levando em conta meu histórico de atitudes quando há muito eu era desatento, porem, posso dizer que reconheço e concordo com tal ponto de vista.

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