domingo, 25 de março de 2018

10 centavos - Ensaios sobre a perfeição - Parte 1

Pré-requisito: Nenhum.

Autor: Gustavo Spina


De acordo com o dicionário Aurélio de língua portuguesa, Perfeição é um substantivo qualitativo significando “o grau de excelência, bondade ou beleza a que pode chegar alguma coisa” [1]. Filosoficamente, o conceito de perfeição é muito mais amplo, e já foi bastante discutido, passando por nomes como Santo Agostinho e Leibniz.

No âmbito social, em nosso cotidiano, a perfeição é um conceito de uso subliminar, diário e, paradoxalmente, quase nunca discutido. Isso se deve ao fato de que, basicamente, este conceito é cega e popularmente aceito e, concomitantemente a isto, possui fundamentação teórica extremamente grande e difícil. Analisemos.

Começando pelo primeiro motivo, o conceito de perfeição é intrinsecamente ligado ao conceito de Deus, ou deus. Uma vez que vivemos em um mundo majoritariamente monoteísta [2], é de se esperar que qualquer conceito que circunde esta atmosfera seja popular e cegamente aceito. Chegando ao segundo motivo, basta que façamos uma rápida pesquisa no Google para nos depararmos com uma infinidade de grandes nomes da Filosofia mundial despendendo páginas e mais páginas acerca deste conceito. Sua complexidade teórica é assombrosa e, portanto, vai na contramão de uma ideia corriqueiramente discutida. Dessa forma, apesar de utilizarmos este conceito o tempo todo, afirmando que algo ou alguém é perfeito ou imperfeito, nem ao menos sabemos do que realmente se trata a perfeição.

Vamos então despender mais algumas linhas para compreendermos um pouco melhor este conceito, de forma simples, mas chegando a conclusões muito interessantes.

Vamos inspecionar este conceito verificando sua natureza e unicidade. Quais os fundamentos básicos acerca da perfeição? Seria a perfeição uma característica única? O intuito deste pequeno artigo é explorar de forma superficial o conceito a fim de definir seus alicerces e descobrir se é possível haver graus ou tipos diferentes de perfeição.

O conceito de perfeição é um compilado de muitos outros conceitos, é uma qualidade suprema, feita de inúmeras outras qualidades. A perfeição é uma característica que abrange diversas outras, mas, podemos definir seus pilares fundamentais os conceitos de “máximo” e “infinito”. A perfeição deve ser entendida primordialmente como uma qualidade máxima e infinita. Tudo o mais que pertencer à qualidade da perfeição deverá, portanto, ser máximo e infinito. Como exemplo, se incluirmos a característica de bondade à perfeição, esta bondade deverá então ser máxima e infinita. Desta forma, por definição devemos assumir que nenhuma outra bondade é maior ou igual (nada é maior ou igual que o infinito) nem melhor (não há como ultrapassar o máximo de uma qualidade). Isto responde, automaticamente, ao nosso segundo questionamento. Através de seus pilares fundamentais, a perfeição se caracteriza única, não deixando a hipótese de haver mais de um tipo ou diferentes graus de perfeição no mundo das possibilidades reais.

Para simplificar o entendimento, vamos fazer uma representação pictórica do conceito de perfeição como uma escala de medida em metros: suponhamos que, nesta escala de medida que criamos, a máxima medida em metros corresponde à perfeição. Para iniciar a disputa, imaginemos que se levante a opinião de que o Sol, de nosso sistema solar, seja tido como perfeito. Nosso Sol de fato é uma estrela muito grande, com um diâmetro de cerca de 1.392.000 km [3]. Entretanto, vasculhando um pouco mais o universo, nos deparamos com a estrela Antares, aproximadamente 700 vezes maior que nosso Sol [4]. Sendo assim, o Sol deixa de ser perfeito, dando lugar à nova perfeição: Antares! Nada pode ser maior. Será? E o espaço percorrido entre o nosso Sol e Antares, não é muito maior do que qualquer uma dessas estrelas?

Enfim, para toda e qualquer distância absurdamente grande candidata ao título de perfeita, sempre poderemos adicionar mais alguns centímetros, e assim por diante ad infinitum. Como não há, fisicamente, um limite superior em metros, somente um tamanho infinito corresponderia, neste nosso exemplo hipotético, a um tamanho perfeito. Qualquer distância próxima ao limite máximo, será inferior a este e, portanto, imperfeita (e não com algum grau de perfeição ou com algum outro tipo de perfeição).

Sendo assim, podemos estender essa compreensão para toda e qualquer qualidade que desejarmos incluir como parte integrante da perfeição: a bondade, a sapiência, a potência etc. Quais serão as implicações quando tentamos aplicar o conceito de perfeição a um ser?

[1] - https://dicionariodoaurelio.com/perfeicao Acesso em: 25 Mar. 2018



[4] - http://www.apolo11.com/escala_planetas.php Acesso em: 25 Mar. 2018

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