sábado, 16 de junho de 2018

O Outro Lado da Música 2 - Metamorfose Ambulante - Raul Seixas

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Um dos métodos mais simples e, portanto, um dos primeiros meios pelos quais a humanidade começou a “fazer ciência” foi através da observação de como a natureza funciona. A partir disto, de tentarmos entender aquilo que estamos enxergando bem diante de nossos olhos, surgiram as bases para a formulação de nossas primeiras hipóteses – palpites sobre como as coisas funcionam – e nossas primeiras grandes descobertas.

Com o passar do tempo, até chegarmos aos dias de hoje, nossa forma de se “fazer ciência” mudou completamente, mas, ainda assim, observar como a natureza funciona, ainda que com o uso de tecnologias jamais pensadas há milhares de anos atrás como telescópios e aceleradores de partículas, continua sendo uma das melhores maneiras de aprendermos.

Entre as inúmeras coisas que pudemos aprender observando a forma como a natureza funciona é a importância da mudança. Em toda a história evolutiva da vida, desde os primeiros seres unicelulares que habitavam a Terra até chegar à diversidade e complexidade de formas de vida que existem hoje por aqui, os genes – protagonistas desta história – só foram capazes de fazê-la através da mutação genética.

Ao se replicar, um gene cria uma cópia de si mesmo. O objetivo aqui é criar uma cópia idêntica, para que ambos criem novamente cópias idênticas de si mesmos, e assim sucessivamente, com o objetivo de se proliferar. No entanto, no ato de uma replicação, podem ocorrer erros, ocasionando em um novo gene: uma cópia do anterior, com uma parcela diferente gerada pelo erro, fenômeno aleatório denominado de “mutação genética”. Sem mutações ou, se preferirmos, mudanças nos genes durante sua autorreplicação, todos os genes teriam sidos completamente idênticos, e não poderiam usar suas diferenças entre si para se organizarem em grandes grupos distintos, formando características de seres vivos em cada vez maior número, com cada vez maior complexidade tal qual realmente aconteceu.

Em outras palavras nós, por exemplo, seres inteligentes e de alta complexidade estrutural só existimos por que a forma como a natureza genética trabalhou e continua trabalhando desde os primórdios da vida utiliza, ainda que de forma acidental, a mudança!

Fazendo o uso de nossa inteligência e colocando a razão sobre esta atitude genética impensada, podemos aprender com a forma pela qual a natureza trabalha e trazer a mudança para a nossa realidade, discutindo de que forma ela pode nos ajudar a pensar de uma forma cada vez melhor, da mesma forma que ajudou nossos genes a construir organismos cada vez mais complexos.

No campo da razão e do pensamento, se definirmos que nosso objetivo é, por exemplo, buscar a verdade sobre todas as coisas, podemos chegar à conclusão de que a mudança entre as diversas linhas de pensamento existentes é a melhor maneira de atingirmos nosso objetivo. Vejamos.

Imagine que no exemplo dado anteriormente os genes pudessem pensar e decidir se têm uma mutação genética em sua replicação ou não. Vamos supor também que seu objetivo fosse criar uma estrutura complexa como o elefante, por exemplo. Um gene com apenas a característica de se replicar, em busca deste objetivo tem, inicialmente, apenas três escolhas: se replicar sem mutação, se replicar com mutação e não se replicar. Aqui fica óbvio que, para atingir seu objetivo, a escolha correta é se replicar com mutação, pois nos outros dois caminhos sabemos que as chances de se formar um elefante são nulas.

Suponhamos que a cada mutação feita, o gene aprende como fazê-la e, dali para frente, pode escolher fazê-la novamente ou simplesmente continuar mutando aleatoriamente. Imaginemos que a primeira mutação, realizada a partir da primeira decisão que ele tomou garantiu uma cópia sua com mudanças estruturais que podem, em conjunto com muitos outros genes, possibilitar a formação de tecidos, de peles, vasos sanguíneos etc. Sabemos que para a formação de um ser como um elefante, é essencial que se tenha diversos tipos de tecidos epiteliais, vasos sanguíneos entre outros. Portanto esta mutação ocorreu na direção de seu objetivo, e por isto deve ser refeita pelo gene, até que se tenha uma grande quantidade de genes com esta característica. Entretanto, quando esta quantidade for atingida, o gene precisa novamente escolher entre não se replicar, se replicar sem mutação, se replicar com mutação ou se replicar com característica propensa a formação de tecidos.

Novamente, a replicação com mutação é a melhor opção, a única que pode levar o gene de encontro a seu objetivo. Suponhamos desta vez, para finalizarmos a ideia por trás deste exemplo pictórico, que a mutação que o gene sofreu em sua replicação gerou uma cópia sua com mudanças estruturais que podem, em conjunto com muitos outros genes, possibilitar a formação de um sistema de respiração embaixo d’água, um mecanismo orgânico de conversão de moléculas de água em moléculas de oxigênio. Neste caso, a mutação genética foi na contramão de nossos objetivos, nos levando a uma característica que não nos ajuda em nada em nosso objetivo, uma vez que o elefante não respira embaixo d’água. Porém, e este é o ponto mais importante aqui, ainda assim a opção de escolher o caminho da realização da replicação com mutação continua sendo o melhor caminho, pois mesmo que haja uma probabilidade igual de ser uma mutação “boa” ou uma mutação “ruim” para nossos objetivos, ele é o único caminho que apresenta uma probabilidade diferente de zero de nos levar à nossa realização final.

Trazendo para a nossa realidade, se nosso objetivo final for buscar a verdade sobre todas as coisas como o proposto, devemos escolher quais linhas de pensamento, dentre as centenas de milhares existentes, que nos levam à verdade em cada aspecto do pensamento humano. Suponhamos que, assim como os genes em nosso exemplo anterior, comecemos nossa busca pelo nosso objetivo. Nossa característica inicial é nossa bagagem cultural de pensamentos – linhas de pensamento e ideologias que nos são passadas, desde que nascemos, através da cultura local e de nossos familiares. Dessa forma, nossa escolha inicial, para cada uma das ideologias que temos conosco, fica entre as opções:

1.       Continuar acreditando nesta linha de pensamento;
2.       Aceitar uma linha de pensamento contrária.

E, em um olhar mais amplo, visto que nenhum ser humano é capaz de conhecer todas as linhas de pensamento que existem:

1.       Continuar com o mesmo número de linhas de pensamento;
2.       Procurar outras opções.

Dado que o número de ideologias e linhas de pensamento tende ao infinito, fica fácil saber que, a probabilidade de acertarmos na mosca, de termos conosco, sobretudo apenas pela bagagem cultural e familiar, justamente as linhas de pensamento que nos levam à verdade sobre tudo o que se pode pensar, é extremamente baixa, tendendo a zero, tanto pela baixíssima quantidade com relação ao todo, quanto pelo fato de sequer termos arbitrado sobre elas e suas opostas alguma vez.

Portanto, a opção de número dois, a mudança, em ambos os casos, tanto na composição de nossas crenças e formas de pensar quanto em sua quantidade, nos fornece sempre uma probabilidade maior de nos levar ao nosso objetivo, de nos levar à verdade. E, exatamente como no exemplo anterior, podemos concluir que, mesmo no caso onde mudarmos uma crença “boa” por uma “ruim”, ou adicionarmos ao nosso conhecimento uma pensamentos contendo inverdades, ao final, o caminho da mudança é sempre o melhor, pois mesmo nestes casos, podemos mudar novamente e voltar atrás, retornando à ideologia anterior ou eliminando a nova linha de pensamento. Se ele, assim como eu, aprendeu isto observando a natureza ou não, não sabemos, mas não poderia concordar mais com Raul Seixas: eu também prefiro ser essa metamorfose ambulante.

Música: https://www.youtube.com/watch?v=7VE6PNwmr9g.

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