sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A Saudação ao Retrocesso


Pré-requisito (obrigatório): Aprendendo a Aprender

Autor: Gustavo Spina

No texto Aprendendo a Aprender, nós analisamos o ser humano como aprendiz, entendendo a forma como nós aprendemos, evidenciando as principais falhas deste processo e propondo um novo método de aprendizado, de modo a corrigir estas falhas e melhorar nosso desempenho neste campo. Neste texto, vamos aprofundar ainda mais na modelagem de nosso aprendizado, tratando não só dos aspectos locais, mas também dos globais, exemplificando com algumas situações atuais as quais nos ajudarão a identificar, com precisão, os momentos em que nós praticamos a saudação ao retrocesso.

Como evidenciado no texto Aprendendo a Aprender, a maior falha característica de nosso intrínseco processo de aprendizagem é a obrigatoriedade do acontecimento errôneo, para que então possamos aprender com ele. Somando-se este fato ao curto período de nossas vidas, podemos aproximar (exatamente como fizemos no referido texto) nosso aprendizado a um processo cíclico. Com isto, é possível explicar, o porquê não há mudanças, para melhor, muito significativas em períodos inferiores a centenas de anos, por exemplo.

Por outro lado, este mesmo processo não é puramente cíclico, pois se o fosse nós não teríamos evoluído nada, e estaríamos ainda hoje, literalmente escondidos em nossas cavernas lutando pela nossa sobrevivência da forma mais instintiva possível. De fato, ainda que não da melhor maneira, e também devido aos milhões de anos de nossa existência nós, de fato, evoluímos e nos distanciamos de nossos antepassados de forma bastante significativa.

Isto é decorrente do fato de sermos seres biologicamente, ou naturalmente se preferir, sociais. Este fato nos levou, juntamente com o processo igualmente natural da formação de nossos cérebros e nossa inteligência, à construção de nossas interações interpessoais e nossas sociedades, que por sua vez nos levaram à construção conjunta de nosso conhecimento. Com o advento da escrita, há mais de 6000 anos atrás, pudemos registrar e acumular todo o nosso conhecimento, dando início a um processo contínuo de evolução. Sob esta ótica, nosso processo evolutivo é absolutamente contínuo, pois possibilita às gerações posteriores continuarem a explorar e adquirir conhecimento a partir do que ponto em que as anteriores pararam.

Desta forma, aprofundamo-nos mais na modelagem de nosso processo de aprendizado, podendo chegar à conclusão de que este não é apenas cíclico, tampouco apenas contínuo, mas sim uma composição de ambas as partes. Para simplificar podemos representar esta modelagem pictoricamente, com elementos geométricos. Geometricamente, a forma de nosso processo de aprendizado é o resultado de duas componentes: uma reta, que representa a componente contínua, e um círculo, que representa a componente cíclica de nosso aprendizado, o que resulta no formato HELICOIDAL, conforme ilustram as imagens a seguir.




Com isto, podemos apontar mais precisamente a origem do problema, descobrindo os momentos exatos em que nosso aprendizado atinge a parte em vermelho de sua trajetória helicoidal, e começa a regredir, caminhando para o lado contrário ao da evolução. Encontrando os motivos que nos levam a este retrocesso, nós podemos aplicar a solução, ou melhor, o método de aprendizado apresentado no texto Aprendendo a Aprender, diretamente nestas causas, sanando o problema globalmente; e é exatamente isto o que faremos nos próximos parágrafos deste texto.

Tendo em vista que esta modelagem mais precisa de nosso aprendizado é global, ou seja, não é o processo de aprendizagem de cada indivíduo separadamente, e sim de grandes grupos populacionais, ou até de toda a população humana, fica fácil descobrirmos as causas de sua componente retrógrada. Globalmente, apesar da obrigatoriedade do erro ainda existir para que possamos aprender com ele, este erro não é repetido pelos outros indivíduos, pelo simples motivo de já estarmos considerando todos, ou grande parte dos indivíduos, de uma só vez. Com isto, fica evidente então que, a única causa possível do retrocesso característico indicado em vermelho na representação pictórica de nosso processo global de aprendizado é cometermos, novamente, OS MESMOS ERROS DO PASSADO.

Em outras palavras, o que individualmente se traduz em não aprendermos com as situações e com os erros dos outros, aprendendo apenas quando nós mesmos passamos pelas mesmas situações e cometemos os mesmos erros; globalmente isto equivale a não aprendermos com os erros de nossos antepassados, cometidos em um passado distante ou muitas vezes nem tão longínquo, e acabamos por repetir mais vezes os mesmos erros, como se estivéssemos olhando para a nossa tortuosa história e quiséssemos repeti-la, como se estivéssemos fazendo uma saudação ao retrocesso.

Exemplos deste fenômeno, infelizmente, existem em abundância. Nós saudamos o retrocesso por todo o mundo quando realizamos guerras, entre dois ou mais países, mesmo sabendo que elas representam as maiores manchas de ignorância de nosso vergonhoso passado; ou mesmo quando praticamos o preconceito contra homossexuais, que já foram tanto completamente aceitos, como também veementemente perseguidos, em sociedades passadas. Nós saudamos o retrocesso no Oriente Médio, onde travamos batalhas diárias em busca de objetivos confusos ou por questões político-religiosas pífias e falhas, mesmo sabendo que, há milênios, isto nunca resolveu nenhum de nossos problemas. Nós saudamos o retrocesso no Brasil quando praticamos o racismo, especialmente contra negros, mesmo sabendo que a abolição da escravatura, e consequentemente a ideia repugnante de que os brancos eram superiores aos negros, foi deferida há mais de 120 anos; ou quando pedimos pela volta do militarismo ao poder, mesmo sabendo que isso significa pedir pelo dever de ficar calado, e não ter o direito de pedir mais nada.

Recapitulando o método de aprendizado proposto no texto Aprendendo a Aprender, ele consistia em adicionar um simulador, o qual tinha como entrada os resultados dos erros de outras pessoas, e fazia então a analise daqueles resultados, de forma ponderada, considerando as individualidades de cada pessoa e situação, para que pudéssemos aprender com as inúmeras situações e consequências das pessoas à nossa volta, sem ter que repetir os mesmos erros para ter o privilégio de aprender com eles.

Trazendo esta solução para o caso global tratado neste texto, podemos inferir que para sanar o problema de nosso aprendizado em conjunto devemos aplicar novamente este simulador, mas colocar como entrada os resultados dos erros de nossos ancestrais, para fazer então a análise, de forma igualmente ponderada e inteligente, das situações que a humanidade já vivenciou e de todas as consequências que cada uma delas deixou em nossa história, para que possamos, em conjunto, aprender com as inúmeras situações já vividas por nossa raça anteriormente, sem ter que repeti-las.

Desta forma, usaríamos nossos conhecimentos registrados ao longo de mais de 6000 anos, desde o advento da escrita, a nosso favor, utilizando nações que se transformaram em ruínas, formas de sociedades que colapsaram e toda e qualquer atitude global feita anteriormente como um mal exemplo, para que não seja mais repetido, ou como um bom exemplo, para que continue sendo aplicado e melhorado. Isto realmente parece o mais sensato, e até pode beirar o óbvio em relação ao que deve ser feito, mas infelizmente, não é o que vemos em prática. Um bom livro de história, usado da forma correta, já seria o suficiente para eliminar uma boa parcela de imbecilidade a qual assistimos, diariamente, pelas janelas de nossas redes sociais.

Em nossa modelagem, isto equivale a ter toda a componente retrógrada, representada em vermelho, do movimento helicoidal de nosso aprendizado eliminada, diminuindo o tempo e melhorando abruptamente a qualidade de nosso aprendizado em conjunto.


Por fim, neste texto nós continuamos a interessante discussão sobre o nosso aprendizado, mas desta vez em conjunto, modelando-o geometricamente com a forma helicoidal em um plano 2-d. Evidenciamos suas principais falhas, e por fim propusemos novamente uma solução que, assim como no texto Aprendendo a Aprender, consiste na aplicação de um simulador a fim de que possamos aprender com nossa história, sem a necessidade de repetir os mesmos erros do passado. Assim, deixo novamente meu singelo pedido ao leitor para que tente pôr em prática este simulador, mas agora em conjunto, refletindo, analisando e estudando qual o seu papel nas atuais atitudes humanas globais, se elas já foram tomadas por nossos antepassados, e quais foram os resultados. Fazer esta análise pode não ser a atitude mais fácil, mas com certeza te guiará pelo caminho mais correto, onde não saudamos ao retrocesso, e sim aprendemos constante e continuamente, cada vez mais e melhor; o caminho onde olhamos pra frente e enxergamos O OUTRO LADO DA MOEDA.

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